quinta-feira, 13 de outubro de 2011

SOBRE A DIVISÃO TERRITORIAL DO PARÁ

Réia Sílvia Lemos[1]
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Gostaria de saber dos Paraenses, qual a opinião deles a respeito da campanha de alguns deputados estaduais sobre a divisão do Estado?

Os paraenses, por estarem acostumados à dimensão desse território, nunca se importaram em dividi-lo. Agora, os imigrantes que ocupam as regiões Sudeste e Sudoeste do Pará, porque não são daqui, porque não têm afinidade com o Pará, querem criar os estados do Carajás e do Tapajós.

Os paraenses, por estarem acostumados à dimensão desse território, nunca se importaram em dividi-lo. Agora, os imigrantes que ocupam as regiões Sudeste e Sudoeste do Pará, porque não são daqui, porque não têm afinidade com o Pará, querem criar os estados do Carajás e do Tapajós.

Nessas regiões, os paraenses são muito poucos, pois a maioria se encontrava às margens dos rios (ribeirinhos). Os projetos de integração nacional dos governos militares trouxeram imigrantes de diferentes rincões do país e são estes, que por não terem a identidade regional procuram criar outras unidades federativas.

Foram esses migrantes que devastaram as matas da região, pois o nativo daqui sabia aproveitar do que a floresta tinha para lhe oferecer (é claro que viviam ainda como seus povos ancestrais) e sobreviviam em plácido e integrado (in)desenvolvimento sustentável. Assim o fazem e faziam porque os recursos eram e ainda são parcos para atividades produtivas inovadoras, daí que a coleta e a pesca artesanal e uma, ainda hoje, incipiente agricultura familiar são dominantes.

No processo de tentativa de ocupação, desenvolvimento e integração regional vieram muitos paupérrimos, o que só piorou a realidade social local, porque trouxe a violência rural (antes inexistente ou pontual), seja pela reforma agrária ou nos projetos mineradores.

Os que vieram com dinheiro, logo atrás, foram comprando as terras que estavam às margens da Transamazônica e vicinais principais. Aquele que tinha sido beneficiado com a terra foi vendendo a que lhe tinha sido doada, para depois se organizar e ir reivindicar novamente e novamente e mais novamente, outras terras, para novamente reiniciar o ciclo de invasão, pedição, venda.

Esses de maior poder aquisitivo foram se tornando, mais e mais, grandes produtores rurais. Paciência! Nessas regiões do Sudeste e Sul foram criando as grandes fazendas, dizimando as espécies vegetais que caracterizavam a economia local ou a riqueza vegetal das matas. Afinal... não dá para criar gado na copa das árvores, não é mesmo? Idem para a soja, a cana de açúcar...

Sendo todos eles "estrangeiros" em nossas terras, com laços afetivos aos seus estados natais, raríssimamente esse pessoal conhece a cultura local ou sequer Belém. Os pobres e miseráveis, porque assim o são... Derramados que foram pelos projetos de reforma agrária ou por dispensação governamental nos comboios férreos que vinham do estado vizinho. Esse pessoal não tem a mínima idéia de onde seja e como seja a capital do Estado.

Perturbam a assistência social das prefeituras dessas macrorregiões fazendo pedidos para "visitar algum tipo de parente", em algum Estado vizinho; para ir fazer tratamento de saúde, acolá, naquele estado do NE ou CO. Nunca, mas nunca solicitam ou aceitam, na realidade "exigem" ir para o estado, A, B e C, dacolá...

Se não são daqui, se são dacolá... Se não conhecem a nossa cultura, não conhecem o nosso Estado, o seu povo e a sua gente, eles querem é mais se separar. É muito conveniente e, em princípio, nas décadas de 80 e 90, até teve sentido o redimensionamento territorial dessas regiões, dada a distância do centro decisório do Estado e, mesmo assim, ainda distantes estão.

O que não está certo é criar município só para ser curral de político local, que não têm economia com base em nada, a não ser receber os repasses do ESTADO (federal e estadual). Criar município apenas para receber o FPM e o ICMS gerados em outros municípios, NÃO! Se dentro de um prazo "x" está provado que não se mantém, não tem autonomia, volta ao município mãe.

Esse papo de plebiscito, como disse é papo. Sou testemunha de municípios que foram criados a partir do meu e que nunca nos foi permitido opinar sobre esses desmembramentos. Fazer plebiscito com a "meia dúzia de interessados" é tripudiar... É claro que "os interessados estão de acordo". Têm que ser perguntado a todos os interessados do Estado. Mas como o povo daqui é pacífico, será aprovado!

Tem sentido uma redivisão territorial, mas o que querem é ficar com o que tem de riqueza do Município/ Estado, deixando à míngua o município/estado mãe. O território do Tapajós clama uma divisão, face à dimensão territorial do Pará; no entanto, quer tirar toda um faixa territorial gigantesca à sudoeste e noroeste. Por que não fica só com o seu lado, donde está o Tapajós? Lá em cima não tem nada que lembre o mesmo... O Estado de Carajás, levará as minas mais avantajadas do planeta, a hidrelétrica de Tucuruí, as regiões pecuárias e agrícolas do Sudeste paraense, as praias fluviais do Araguaia e Tocantins.

O Território do Marajó, o único que ainda tem o povo paraense, a cultura ancestral e jeito de ser paroara. Ao estado mãe... ah! ficam algumas indústrias da região metropolitana e o turismo receptivo e uma dezena de micromunicípios do Salgado, que nem o peixe que é produzido, por aqui passa. Desce direto a BR010 ou pega a BR316. Isso basta, não é mesmo? Pra que mais?



[1] Profª Associado II – D.Sc. Ciências Morfológicas – Esp. DESCPI-DHA
Laboratório de Estudos e Pesquisas em Políticas Públicas de Saúde e Direitos Humanos – LEPPPS-DH

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